Realmente nunca é tarde para mudanças de concepção e esta semana tive mais uma vez a confirmação desta certeza. Acredito que as pessoas se formam de acordo com os valores e exemplos que adquirem durante toda sua vida. É por isso que pais, educadores e todas as pessoas que estão em contato direto com as crianças são tão importantes para a construção e o fortalecimento de suas personalidades.
Acontece que mesmo com o passar do tempo algumas concepções, alguns valores continuam arraigados na nossa alma como tatuagens e mesmo que se vivencie novas experiências, conheça novos conceitos, ainda assim algumas verdades continuarão eternas para cada um de nós.
Cresci em uma geração onde a mulher ainda era a única responsável pelos afazeres domésticos: lavar, passar, cozinhar, enfim, das bisavós até as mães sempre foi assim. É claro que ao longo do tempo muitas mudanças apresentaram-se, algumas incríveis, como a possibilidade da mulher trocar de papéis com o homem em algumas funções ou concorrer livremente com ele em uma oportunidade de emprego, contudo, ainda assim mesmo com a mulher invadindo o mercado de trabalho, salvo exceções, ainda é dela a responsabilidade dos afazeres domésticos.
Muitas mulheres hoje têm a possibilidade de contratar alguém para cuidar da casa, da roupa, contudo ainda assim lhes resta a função da escolha do funcionário, mostrar o que quer que seja feito,de que forma, e para isso, já dizia minha avó: só sabe mandar quem sabe fazer. É cultural as meninas brincarem de fazer comidinha e de casinha e os meninos de jogadores de futebol ou motoristas de carro de corrida. Eu pelo menos nunca vi um menino dizer que vai brincar de papai, você já?
Não quero afirmar que ainda vivemos em uma sociedade completamente machista, até por conhecer vários homens que minha avó chamaria de prendados, capazes de cuidar da sua roupa, da sua comida, da casa, mas mesmo que seja para coordenar a organização destes afazeres domésticos sempre existirá por trás deste homem uma mulher, pode ser a avó que o ensinou a fritar o ovo, ou a mãe que ensinou a utilizar a máquina de lavar, dificilmente o que sabem foi lhes ensinado por um homem.
Não acho que seja um cargo do qual devamos nos orgulhar, afinal reflete a submissão sofrida por inúmeras mulheres em um período incontável que perdura da formação da humanidade até hoje, mas este espaço, imaginava eu, sempre seria nosso.
Imaginava até hoje. E é daqui que retomo a discussão iniciada anteriormente sobre nossa mudança de valores, de concepções. Sempre que busquei uma diarista para atender a limpeza do meu apartamento solicitava uma moça de confiança, sempre assim, uma mulher que pudesse cuidar de tudo, sem me deixar com medo de chegar em casa e encontrar o apartamento vazio.
No meu trabalho sempre tive auxiliares de limpeza mulheres e nunca houve nenhum tipo de estranhamento, com a exceção das fofocas comuns onde existem muitas mulheres juntas (isso é inevitável e tenho que admitir), contudo semana passada soube da mudança da empresa de limpeza no meu local de trabalho e fui avisada que teríamos uma nova auxiliar.
No primeiro dia de trabalho da nova funcionária estava em uma reunião externa e não demorou para meu celular tocar com a auxiliar administrativa toda preocupada com a seguinte informação:
- A nova funcionária da limpeza chegou.
- Que bom! Já mostrou o prédio para ela?
- Já. Mas tem uma coisa.
- O quê? Algum problema?
- Não sei se é um problema. Mas é que quem se apresentou hoje aqui é um rapaz.
- Um homem?
- É.
- Interessante.
Confesso que me surpreendi. Não pelo fato de ser um homem simplesmente, afinal já presenciei vários homens em firmas de limpeza da cidade realizando seu trabalho como qualquer uma de nós, mas a surpresa veio quando cheguei ao prédio no dia seguinte.
O toldo da entrada estava brilhando, os vidros impecáveis, chão encerado, aquele cheirinho de limpeza que invadia o prédio todo, me apresentei enquanto o via limpar o fogão.
Um homem novo, de uns 40 anos aproximadamente, quieto e muito prestativo. O comentário no prédio entre as outras funcionárias era apenas um:
- Você viu que belezinha esse moço? Limpou tudinho!
- Pois é, nem dá tempo de pedir e ele já está limpando.
- Além de tudo é organizado.
- E o melhor de tudo, não faz fofoca.
Não faz fofoca, mas virou a fofoca da semana. Uma fofoca boa, daquelas que me fez mais uma vez repensar meus pré-conceitos e admitir que neste cargo, que foi culturalmente delegado exclusivamente a nós mulheres, existem homens que superam a muitas de nós.
Eu nunca gostei dos afazeres domésticos, sei fazer de tudo um pouco porque fui ensinada a isso, mas confesso que estou longe de limpar tão bem uma geladeira como aquele rapaz, que durante uma conversa e outra ainda me contou já ter trabalhado como diarista:
- É mesmo? Trabalhava em casa de família?
- É, antes de entrar na firma eu era secretário.
- Secretário?
- Secretário do lar, sim senhora!
E foi assim que conheci mais um personagem da minha própria história, capaz de me fazer refletir sobre um pouco de tudo e sobre o quanto ainda não sei de nada.
Ilustração de: Gabriel Vicente.
Acontece que mesmo com o passar do tempo algumas concepções, alguns valores continuam arraigados na nossa alma como tatuagens e mesmo que se vivencie novas experiências, conheça novos conceitos, ainda assim algumas verdades continuarão eternas para cada um de nós.
Cresci em uma geração onde a mulher ainda era a única responsável pelos afazeres domésticos: lavar, passar, cozinhar, enfim, das bisavós até as mães sempre foi assim. É claro que ao longo do tempo muitas mudanças apresentaram-se, algumas incríveis, como a possibilidade da mulher trocar de papéis com o homem em algumas funções ou concorrer livremente com ele em uma oportunidade de emprego, contudo, ainda assim mesmo com a mulher invadindo o mercado de trabalho, salvo exceções, ainda é dela a responsabilidade dos afazeres domésticos.
Muitas mulheres hoje têm a possibilidade de contratar alguém para cuidar da casa, da roupa, contudo ainda assim lhes resta a função da escolha do funcionário, mostrar o que quer que seja feito,de que forma, e para isso, já dizia minha avó: só sabe mandar quem sabe fazer. É cultural as meninas brincarem de fazer comidinha e de casinha e os meninos de jogadores de futebol ou motoristas de carro de corrida. Eu pelo menos nunca vi um menino dizer que vai brincar de papai, você já?
Não quero afirmar que ainda vivemos em uma sociedade completamente machista, até por conhecer vários homens que minha avó chamaria de prendados, capazes de cuidar da sua roupa, da sua comida, da casa, mas mesmo que seja para coordenar a organização destes afazeres domésticos sempre existirá por trás deste homem uma mulher, pode ser a avó que o ensinou a fritar o ovo, ou a mãe que ensinou a utilizar a máquina de lavar, dificilmente o que sabem foi lhes ensinado por um homem.
Não acho que seja um cargo do qual devamos nos orgulhar, afinal reflete a submissão sofrida por inúmeras mulheres em um período incontável que perdura da formação da humanidade até hoje, mas este espaço, imaginava eu, sempre seria nosso.
Imaginava até hoje. E é daqui que retomo a discussão iniciada anteriormente sobre nossa mudança de valores, de concepções. Sempre que busquei uma diarista para atender a limpeza do meu apartamento solicitava uma moça de confiança, sempre assim, uma mulher que pudesse cuidar de tudo, sem me deixar com medo de chegar em casa e encontrar o apartamento vazio.
No meu trabalho sempre tive auxiliares de limpeza mulheres e nunca houve nenhum tipo de estranhamento, com a exceção das fofocas comuns onde existem muitas mulheres juntas (isso é inevitável e tenho que admitir), contudo semana passada soube da mudança da empresa de limpeza no meu local de trabalho e fui avisada que teríamos uma nova auxiliar.
No primeiro dia de trabalho da nova funcionária estava em uma reunião externa e não demorou para meu celular tocar com a auxiliar administrativa toda preocupada com a seguinte informação:
- A nova funcionária da limpeza chegou.
- Que bom! Já mostrou o prédio para ela?
- Já. Mas tem uma coisa.
- O quê? Algum problema?
- Não sei se é um problema. Mas é que quem se apresentou hoje aqui é um rapaz.
- Um homem?
- É.
- Interessante.
Confesso que me surpreendi. Não pelo fato de ser um homem simplesmente, afinal já presenciei vários homens em firmas de limpeza da cidade realizando seu trabalho como qualquer uma de nós, mas a surpresa veio quando cheguei ao prédio no dia seguinte.
O toldo da entrada estava brilhando, os vidros impecáveis, chão encerado, aquele cheirinho de limpeza que invadia o prédio todo, me apresentei enquanto o via limpar o fogão.
Um homem novo, de uns 40 anos aproximadamente, quieto e muito prestativo. O comentário no prédio entre as outras funcionárias era apenas um:
- Você viu que belezinha esse moço? Limpou tudinho!
- Pois é, nem dá tempo de pedir e ele já está limpando.
- Além de tudo é organizado.
- E o melhor de tudo, não faz fofoca.
Não faz fofoca, mas virou a fofoca da semana. Uma fofoca boa, daquelas que me fez mais uma vez repensar meus pré-conceitos e admitir que neste cargo, que foi culturalmente delegado exclusivamente a nós mulheres, existem homens que superam a muitas de nós.
Eu nunca gostei dos afazeres domésticos, sei fazer de tudo um pouco porque fui ensinada a isso, mas confesso que estou longe de limpar tão bem uma geladeira como aquele rapaz, que durante uma conversa e outra ainda me contou já ter trabalhado como diarista:
- É mesmo? Trabalhava em casa de família?
- É, antes de entrar na firma eu era secretário.
- Secretário?
- Secretário do lar, sim senhora!
E foi assim que conheci mais um personagem da minha própria história, capaz de me fazer refletir sobre um pouco de tudo e sobre o quanto ainda não sei de nada.
Ilustração de: Gabriel Vicente.
2 comentários:
sabe por que ele faz tudo direitinho?
porque provavelmente não está cansado como nós, que aprendemos no berço a ser secretária do lar rsrs... bjs.
Oi Taline, muito bacanis seu blog.
Gostei do texto =)
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