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domingo, 9 de agosto de 2009

É gripe?!


O assunto do momento tem relação com os espirros, tosses e narizes de porco que encontramos pelas esquinas. A gripe suína, que elegantemente ganha novo nome depois de sua aparição, e atualmente é comentada em voz baixa, aos sussurros como: “a nova gripe”, com um receio quase inconsciente de sua propagação, como se o fato de verbalizá-la fosse suficiente para seu surgimento em um grande espirro surpresa!

O fato é que com maior ou menor intensidade o temor da “nova gripe” tem se espalhado por todo o mundo, em grandes cidades ou vilarejos, muita gente anda se perguntando se já é hora de usar uma máscara no ônibus (se é que essas máscaras evitam mesmo alguma coisa), ou cobrir o rosto com o cachecol a cada espirro ou tossida ao lado.

Aqui na grande cidade com ritmo de interior, muitos casos suspeitos, vários confirmados e muitas pessoas assustadas. Já me deparei com algumas pessoas de máscaras nas ruas, no ônibus, sem falar nos olhares assustados ao menor sinal de alguém ameaçar tosse ou espirro nas proximidades.

Apesar das evidências e das notícias constantes no jornal local, não tinha sentido a nova gripe tão próxima quanto na última semana. Enquanto tentava organizar meus relatórios, deixar lembretes sobre as atividades pendentes para a equipe e contar os dias para entrar de férias, recebi um telefonema da chefia que determinava o cancelamento de todas as atividades grupais e qualquer tipo de aglomeração, pelo período de uma semana no mínimo.

Havia acabado de ler no jornal a notícia do adiamento do início das aulas em escolas municipais, estaduais e universidades federais por duas semanas. O cancelamento do desfile cívico de comemoração ao aniversário da cidade. Adiamento de atividades culturais. E agora a nova gripe estava ali, mais próxima do que eu imaginava, atrapalhando meu trabalho, minha rotina e atrasando a vida de muita gente. Reagi com espanto à notícia, logo eu que morro de medo de qualquer tipo de doença e já havia reforçado a dose de vitamina C para evitar qualquer sintoma suspeito, seja da nova ou velha gripe.

Com ou sem espanto o fato é que a “nova gripe” estava nos rodeando, mesmo que inconscientemente, e o que nos restava era tentar tirar alguma lição disso e prejudicar o mínimo possível quem dependia dos atendimentos. Reorganizamos as atividades, priorizando agora as ações individuais, evitando as tais aglomerações e no final do dia uma enorme nuvem escura pairou sobre o bairro, um vento frio e o medo de adoecer me acompanharam até o ponto de ônibus.

Entrei no ônibus, encontrei um lugar próximo à janela e a abri, me certifiquei que havia ventilação suficiente e ali me sentei, observando os raios que indicavam o início da tempestade logo mais. Sinal de chuva é sinônimo de ônibus lotado, e neste dia não seria diferente. Gente e mais gente entrando por todo lado, pelo menos as janelas ainda estavam abertas, pensei.

Mais alguns quilômetros e a chuva desabou, fez-se um alvoroço! Pessoas fechando as janelas e eu ali, naquela ânsia de evitar que isso acontecesse, não sabendo se era melhor tomar chuva ou ficar sem ar, respirando no mesmo espaço que aquele monte de gente que tossia, espirrava e se enrolava em cachecóis e agasalhos, tentando se desvencilhar de uma possível gripe.

Sem a minha aprovação todos os vidros foram fechados, uma chuva torrencial lá fora e aquele monte de gente amontoado. Comecei a relembrar a notícia do jornal, a determinação da chefia, o fim das aglomerações e fiquei aflita. Quer aglomeração maior do que esta? E sem ventilação nenhuma!

Comecei a pensar se as alternativas de contenção da gripe estavam sendo eficazes e tive quase certeza que não. Só não afirmo a certeza, pois apesar do sufoco, felizmente não gripei, mas não posso afirmar o mesmo das outras dezenas de pessoas que ali estavam.

Será que o ideal não seria ao invés de evitar que as pessoas que possam contaminar-se saiam de casa, conter aquelas que já estão contaminadas em casa? Que tal proibir quem estivesse com a nova ou a velha gripe de ir ao trabalho, a escola ou ao supermercado? Seria uma solução aceitável a meu ver. Contudo, para o empregador liberar o funcionário por causa de alguns espirros e uma febrezinha não pode parecer uma boa idéia, da mesma forma que a “madame” não poderia ficar sem a empregada para fazer suas vontades mesmo gripada.

O fato minha gente, é que não adianta alguns, como eu, terem medo da gripe e fugir do contágio se outros não entendem o quanto o meu bem estar depende do seu e vice-versa. Pandemias só surgem porque alguém, em algum momento achou que era só uma coisa à toa, e ai falou para o vizinho que não era nada, que espirrou para a irmã, que afirmava logo estar melhor e foi viajar pelo mundo e deu nisso.

Não estou querendo instalar o caos ou dizer que essa nova gripe é o terror da humanidade, só queria deixar um recado para que pensássemos um pouco nisso tudo. Afinal, quando se há a necessidade de alterar o rumo da cotidianidade é porque algo realmente não está indo bem.

E o que está fora de prumo neste caso, não é a tal gripe, mas nós, que damos de ombro e vestimos a capa de super-heróis achando que nada nunca nos atingirá, tomamos chuva, gelado, beijamos e abraçamos quem está gripado, esquecemos de lavar as mãos antes das refeições e ainda fazemos piadas com a “nova gripe”, nos esquecendo que a história dos três porquinhos neste caso, talvez não tenha um final feliz...

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