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quinta-feira, 13 de março de 2014

Era uma casa muito...


Engraçada. Bonita. Exótica. Estranha. Interessante. Diferente. É assim a casa que não era, ainda é, pois lá permanece. Em um bairro tradicional da grande cidade, destoando dos padrões e chamando a atenção dos atentos para os pequenos detalhes.
A primeira vez que olhei para aquela casa achei que se tratava de alguma escola de artes, ou galeria, pois uma escultura no segundo andar chamou-me a atenção, bem como os mosaicos coloridos que desenhavam flores no muro, mas não mais do que a frase escrita em letra de mão e tinta vermelha no meio do muro branco: “A madeira apropriou-se de mim. Descobri então a magia de ser árvore”.
Anotei a frase com pressa enquanto o veículo corria pela rua e virei o pescoço para observá-la mais uma vez, enquanto o motorista dobrava a esquina. A magia de ser árvore. As árvores que se apresentavam floridas no caminho ganharam nova cor naquela tarde, a brisa que chacoalhava seus galhos me fazia sentir o cheiro da madeira e da poesia que o autor desconhecido, expressou naquele muro branco.
Quatro semanas depois passei novamente pela rua daquela casa e qual não foi minha surpresa ao notar que o muro branco, recebia nova frase, ainda escrita em vermelho, com um prefácio em azul que dizia: “Instante Reflexo: Quando transcendo sou apenas mais um, quando transgrido sou eu mesmo”.
Quando transgrido sou eu mesmo, quando transcendo sou mais um, apenas. Essa frase me fez lembrar o fato de que podemos acertar mil vezes e nunca receber um elogio, mas basta um erro para milhões de pedras serem atiradas contra nós. A violação é o encontro do que eu faço, com as consequências da minha ação. Ultrapassar limites, buscar ser superior coloca-me apenas no meio de uma multidão em competição constante. O que chama a atenção nesse instante não é alcançar a linha de chegada, a foto da capa vai para o atleta que queimou a largada.
Que tipo de transgressão aquele poeta teria cometido pra pintar o muro de branco, escolher nova tinta e pintar, em letra de mão, aquele sentimento que saia da alma e escapava pelo pincel, letra a letra?
Seis semanas passaram-se até que eu retornasse para aquela rua. Dessa vez passei bem cedo, com o sol ainda espreguiçando, na ânsia de encontrar o autor daquelas palavras, pintando o muro de branco, refazendo sua tela, ou quiçá colocando o ponto final na nova frase que se apresentava: Que eu minta, demais para mim”. Novamente escrita em letra de mão, em tinta vermelha, e sem autoria.
O artista não estava lá, poderia ter escrito na madrugada, enquanto olhava o céu estrelado, usando a lua cheia de farol. Poderia ter escrito uma palavra por dia, deixando os transeuntes curiosos, poderia apenas ter rabiscado e ido deitar-se poucos segundos antes da minha presença, o fato é que ele não estava ali.
Pensei em parar e bater palmas, chamar pelo proprietário, matar a curiosidade e desvendar a história daquela casa que passou a fazer parte de algumas das minhas tardes. Que eu minta. Demais para mim. Mentira corrói primeiro o mentiroso, dói, chega a ser demais mesmo, insuportável, até para mim.
Não parei. Não desci, nem tentei desvendar o mistério daquela casa. Os meses se passaram, mudei minha rotina e por consequência de trajeto e aquela casa permaneceu apenas na minha memória, em meio ao chacoalhar dos galhos das árvores, nas transgressões diárias, nas mentiras com gosto de verdades.
No início desse mês, quase seis meses depois da última frase, passei novamente pela rua daquela casa tão engraçada. Bonita. Exótica. Estranha. Interessante. Diferente. E a frase que ali estampava o muro branco, ainda em tinta vermelha e com a mesma letra de mão, me fez sorrir. Mais do que isso, me fez recuperar lembranças e eternizá-las nesse texto: “O delírio ainda não passou. Um livro ácido. Saudações para quem tem coragem. Arrisque-se”.
Arrisque-se. Coragem, mesmo que tarde. Ainda não foi dessa vez que me arrisquei e bati no portão para descobrir o que existe por trás daquelas letras, dentro daquela alma.

E mesmo com minha covardia ou medo do risco, desejo todos os dias que o autor daquela obra permaneça inspirado, cheio de vida, para transgredir o comum, transcender o real e tocar algumas almas mais atentas que por ali caminham, a cada duas ou três semanas, com uma nova frase, capaz de colorir até mesmo os dias mais cinzas...

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Lança a dança... Insegurança


“Porque amor é justamente isso, é ficar inseguro. É ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle” (Fabrício Carpinejar)

Insegurança é veneno produzido no coração. Corre pelas veias, invade o cérebro e domina os pensamentos. Deixa a boca seca e mata aos poucos, gole a gole.
Seca sentimentos como o sol castiga as plantas no sertão. Camufla sonhos e exalta medos como um outdoor com figuras em segundo plano.
Insegurança dói. Tanto quanto a perda de um ente querido, ou uma batida do dedinho no pé da mesa.
Insegurança é lança atirada pelo inseguro contra o próprio peito. É dança em descompasso em piso frio.
Insegurança transparece. Cresce feito nuvem em dias nublados e esconde o que está à vista, como a lua em dias de nevoeiro.
Insegurança cega os olhos, tapa os ouvidos e constrói perguntas que nunca deveriam ser feitas. Insegurança é a maldição dos desapaixonados ou quiçá dos enganados.
Sua maior propagadora é a moça de coração partido ou o rapaz traído na beira do altar. Sentimentinho ridículo de tão pobre, mas capaz de impedir o surgimento de lindas e nobres histórias de amor.
Filha do ódio e da vingança, irmã do ciúme, a tal insegurança quando encontra um coração partido se instala como se fosse suíte em hotel de luxo e ali permanece, em estadia prolongada, sem data para partir. Por vezes adormece por meses e quase passa despercebida, mas basta a menor desconfiança para que ela acorde e grite, aos berros, que dali ninguém a tira.
Ninguém gosta de sentir-se inseguro. Ninguém gosta de desconfiar. Mas quando alguém carrega a insegurança dentro do peito, é difícil aquela fera aquietar. Acredita que a mantém sob controle, quem não sabe o que ela representa, ou seus efeitos nunca sentiu. Esse acha fácil arrancá-la dali e tece crítica feroz a quem com ela emergiu. E entre uma critica e outra, entre um grito e outro, a insegurança desperta, e sente-se vitoriosa ao anunciar: mais um relacionamento que não vai vingar.
A solução para mantê-la sob controle é manter-se solitário. Sozinho, longe de qualquer sentimento nobre que possa atacá-la e querer seu espaço ocupar. Mas isso é justo?
No meu singelo entendimento não. Mas se o homem é o criador de sentimento tão mesquinho, será possível outro homem nele por fim?
Enquanto o guerreiro não a encara de frente, corações apresentam-se secos, sem vida, incapazes de ser terreno fértil para o cultivo de sentimentos nobres. Palavras ecoam na mente do inseguro e o cansaço da crítica também alimenta a dúvida, enrijece a alma, endurece o coração. A insegurança fechou o portão e disse ao amor: aqui você não entra mais não.
Que grande mal é esse, que confunde baixa estima com medo, que ultrapassa a dor física e faz a alma chorar por não conseguir, por mais que deseje todas as noites, confiar?
Ah insegurança... Lança a dança e agora avança. Vá embora sua bruxa malvada e dê a menina um pouco de esperança. Promessas, terapia e simpatia já não a fazem partir, rezas e mandingas a fazem sorrir, seu único medo é a confiança. Mas cá entre nós, como pode confiar o inseguro que desconfia até de quem faz suas tranças?
Mal sem fim, dor eterna? Dizem que não há mal que para sempre dure, nem tristeza que nunca acabe. A insegurança sendo um mal que causa tanta tristeza não há de ser eterna, pois. Será?
Remédio para curá-la? Ainda não há.  Desconheço algum de efeito imediato, mas dizem por ai que amor, em doses diárias, paciência e gestos de cumplicidade alimentam a confiança e enfraquecem a insegurança. 
E se assim for, que o pedido diário no lugar do café, abra espaço para uma dose de amor, bem caprichada garçom, por favor.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Vai de busão! Vai na contramão!


“Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!”
(Grabiel O Pensador – Até quando?)

Praticamente todos os dias escuto a mesma pergunta:
- Por que você não compra um carro?
A resposta para esse questionamento vai do rápido: porque não quero, até o longo discurso que engloba minha repulsa por dirigir e o entendimento de que até o momento não preciso de um carro para viver.
Sempre andei com meus dois pés bem fincados no chão quando morava na pequena cidade, raramente precisava do carro para alguma coisa e nessas horas uma carona sempre era bem vinda. Nunca gostei muito de dirigir, na verdade esse desgosto beirou a fobia, mas hoje já foi superado.
Tenho carteira de habilitação, dirijo quando é preciso, mas não gosto. Para dizer bem a verdade, nem de andar de carro eu gosto. Tenho aflição, sempre acho que está rápido demais, ou que a vaga não tem tamanho suficiente e isso me dá aflição.
Quando mudei para a grande cidade percebi que andar a pé não seria uma solução, já que as distâncias passavam e muito dos seis ou dez quarteirões de antigamente. Então escolhi o transporte coletivo, também conhecido como ônibus ou “busão”, como meu meio de transporte diário.
Para que preciso de um carro se consigo chegar de ônibus ao meu destino, acomodada em um Mercedes Benz, com 42 lugares, bancos de couro e motorista particular? Sempre consegui chegar a todos os lugares de ônibus e quando o retorno por esse meio não era possível, um táxi resolveu bem o meu problema.
Mas tem muita gente que acha um absurdo não ter um carro e me privar desse conforto. Sinceramente em dias de chuva eu penso seriamente que essas pessoas têm razão, mas basta ver o sol se abrindo e aquela brisa fresca batendo no meu rosto enquanto caminho para casa que já mudo de ideia novamente.
É claro que é muito mais confortável andar de carro, mas não vejo problema nenhum em viajar de ônibus quando consigo um assento livre. E é aqui que está o “X” da questão.
Andar de ônibus não é o problema, complicado é você pagar o mesmo preço de tarifa de quem viaja sentado e ter que viajar em pé. Se equilibrando entre um monte de gente, feito sardinha em lata, correndo o risco de cair, se machucar, ser assediado ou assaltado.
Essa semana me enchi de orgulho ao ver as manifestações pelo Brasil afora. Claro que não é apenas pelos vinte centavos que acrescentaram na tarifa da passagem de ônibus. Claro que não é só pelo passe livre, mas esse já é um motivo forte para se iniciar uma reflexão que beira a revolução.
A esmagadora maioria dos brasileiros utiliza o transporte público, muitos deles não por escolha, mas por essa ser sua única opção. O sucateamento do transporte público, a diminuição de linhas, a ausência de dignidade de um lado e do outro o aumento da tarifa, a corrupção ativa e a política pobre para pobres tem sido retrato há décadas do que o povo brasileiro sofre diariamente.
Se o transporte é público por que é mantido por empresa privada? Por que é pago? Por que não é confortável e de livre acesso? Particularmente não reclamo do aumento da tarifa, o problema é que tudo aumenta, o ônibus, o aluguel, o arroz e o feijão, o combustível, o pão de cada dia, mas o salário do trabalhador continua lá, congelado.
Esse ano mesmo, a maioria dos trabalhadores não teve nem 1% de aumento real no seu salário, mas tudo teve elevação de tarifa, inclusive o ônibus. Tudo bem foram só vinte centavos. Vinte centavos, que para você que anda de carro pode parecer pouco, mas para quem utiliza quatro conduções no dia é quase o almoço no Bom prato.
Está na hora de deixar a crítica vazia de lado e levantar os braços, abrir bem a boca e exigir reforma tributária, punição aos corruptos, liberdade de manifestação. Chega de lavar o carro zero todo o final de semana e se esquecer que daqui seis meses ele já desvalorizou em 30%. Chega de achar que o “busão” lotado está de bom tamanho para o trabalhador pobre e xingar horas em um congestionamento.
Se um dia sentir a necessidade de ter um carro, vou adquiri-lo com consciência, sem me esquecer de todos os anos em que me utilizei do transporte público. Hoje eu falo não e não me calo. Chega de alienação.
Eu ando de ônibus e não me envergonho disso. O que me envergonha é a ausência de um transporte público digno, com qualidade. E se a minha indignação for considerada contrária as prerrogativas dos governantes, então já aproveito para informar que eu vou de “busão” e vou na contramão!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Onde você guarda o seu?

A descrença e a negligência religiosas são um grande mal, porém o preconceito e as mentiras são ainda piores”. (Plutarco)

Essa semana fui surpreendida com a reação de um colega que me fez pensar no quanto ainda existe conservadorismo e preconceito quando o assunto é religião.
Conheço essa pessoa há pouco tempo e não acho que preciso colocar na minha ficha de apresentação meus preceitos religiosos, contudo, nunca quis escondê-los, pois os escolhi e agradeço todos os dias pelo conhecimento adquirido e por poder multiplicá-los. Mas nunca imaginei que poderia causar tanto espanto a alguém ao assumir minha opção religiosa.
Estávamos conversando quando ele perguntou o que faria à noite e disse que iria ao Centro:
- Mas você já mora no Centro!
- No Centro Espírita.
Silêncio.
- Alô?
- Oi...
- Te assustei?
- Não... Eu só não esperava.
- Algum problema?
- Não, eu continuo gostando de você do mesmo jeito, viu?
Vi. Na mesma hora pensei: Meu Deus! Será que ouvi direito?
Aquela frase me soava mais ou menos assim: Você tem esse defeito grave, mas eu vou continuar gostando de você, viu? Ou ainda, você faz essa coisa horrível, mas mesmo depois de saber disso, eu vou continuar gostando de você, viu?
Será que eu tinha que agradecer? Esse constrangimento me fez lembrar a primeira situação que vivenciei registrando intolerância à minha escolha religiosa.
Quando tinha meus dezesseis anos, estudava em uma escola técnica em uma cidade vizinha e conheci lá uma garota muito legal, tinha um coração enorme, era super simpática e companheira, então pensei: Caramba! Essa garota vai ser minha amiga para o resto da vida!
Construímos uma relação forte de amizade que foi rompida quando em uma aula de sociologia, a professora abordou o tema religião e cada aluno expressou sua crença. Ela que era testemunha de Jeová, quando soube que eu era espírita kardecista nem se despediu naquela tarde. E nos dias que se seguiram, foi ficando mais distante.
Lembro que sofri com a perda daquela amizade, mas tentei compreender as razões dela e segui, construindo minha vida nos princípios do amor e da caridade. Jamais me esqueci daquela situação e hoje isso voltou com força, quando escutei aquela frase que ficou ecoando na minha cabeça por horas.
Fico pensando que às vezes chega a me dar medo de afirmar minha doutrina, pois parece aos olhos de muitos que o que faço é errado. Mas porque temos que ser vistos assim? Não tenho nada contra nenhuma religião, já conheci quase todas até me identificar com a doutrina espírita, mas de verdade, é difícil entender o preconceito que se forma sobre o espiritismo.
Agora mesmo, posso apostar que alguns leitores que acompanham essa coluna há anos, poderão deixar de acompanhá-la, se é que já não o fizeram lá no quinto parágrafo. Acreditar em uma ou outra coisa, em um nome para Deus ou em outro muda minha essência? Muda meus valores?
Acredito que o preconceito vem do desconhecimento. Já me perguntaram se fazemos exorcismo ou rituais malignos por lá. Poxa, se você não conhece não julgue. Participe de um atendimento fraterno, de uma palestra, ou converse com quem é praticante e, se quiser permanecer longe dessa doutrina, então, sobretudo a respeite.
Muito se diz sobre evangélicos hoje em dia na mídia e tenho muitos amigos que seguem essa religião e eu os respeito. Assim como também tenho amigos católicos e ateus. E nunca, jamais falaria para um deles que apesar dele ser evangélico (católico, ateu ou qualquer coisa que desejar) continuarei gostando dele, porque isso me soa estranho, para não dizer incompreensível.
Pessoas fazem escolhas o tempo todo, com tudo! A maravilha da humanidade está na diversidade, a evolução dos homens está no fato de aceitar as escolhas feita por outros homens e respeitar suas diferenças. Mas parece que é mais fácil transformar a diferença em avença do que aceitá-la.
Ouvir isso hoje, em pleno século XXI, onde ainda milhares de pessoas morrem no mundo por fanatismo religioso, ouvir isso em uma cidade com quase seiscentos mil habitantes, onde existe uma comunidade espírita vasta e fortalecida, chega a me assustar.
O conservadorismo ainda existe e o preconceito o acompanha de braços dados.
Com esse episódio aprendi que as respostas chegam mais rápido do que as pedimos e que mais difícil do que esconder uma verdade é disfarçar um preconceito. Então, não o esconda, não o omita, não o guarde.
Quando se expõe o preconceito se abre a possibilidade de dialogar sobre isso, abre-se a oportunidade de romper estigmas e conquistar uma nova visão sobre determinado assunto. Ninguém é capaz de mudar uma pessoa, mas é possível mudar o jeito de olhar para ela, basta conhecê-la, e para isso é preciso despir-se de toda e qualquer forma de preconceito e pré-conceitos.
E então? Onde você guarda o seu? Vamos conversar mais sobre isso?




terça-feira, 18 de junho de 2013

Ah! O amor...

“Não quero mais
Ouvir quem diz
Que o amor é só
Pra ser feliz
Angústia ou paz
Prazer ou dor
Eu quero é mais
Morrer de amor”
(Dori Caymmi)

Semana do dia dos namorados, corações explodindo de alegria e de ar nas vitrines das lojas pela cidade. Balões em forma de coração, almofadas em forma de coração, porta-retrato em forma de coração, chocolate em forma de coração, tapete em forma de coração, assadeira de bolo em forma de coração e até coração em forma de coração.
Para falar a verdade, não consigo entender porque quando o assunto é dia dos namorados o coração tem que ser símbolo fundamental. Logo o coitado que é o primeiro a se estrepar quando o relacionamento desanda. Logo ele que vive cheio de curativos, partido, todo temeroso quando alguém bacana aparece. Por que logo ele tem que ser o carro chefe da festa no dia dos namorados?
Namorados costumam trocar corações o tempo todo, é pingente daqui, promessas dali, almofadinhas acolá. Simbologia perfeita do cuidado, mas se você pensar que muitas pessoas mal conseguem cuidar do seu próprio coração, aceitar a missão de cuidar de outro, cheio de vontades e manias estranhas é no mínimo arriscado.
Acontece que muitas pessoas esperam mais dos outros do que delas mesmas. E isso é perigoso. É terreno farto para decepções e conflitos. Digo isso, pois me incluo nesse grupo e sei que grande parte das vezes em que me percebi triste, não era por algo que eu tinha feito de errado, mas por decepção. Tristeza causada pela atitude de alguém que não ocorreu da forma como eu esperava.
Essa semana estava escutando uma palestra e o orador disse que as pessoas que tentam ser perfeitas demais, acabam buscando a perfeição nas outras pessoas com que se relacionam e o desfecho desse encontro é um fatídico desencontro, rumo à solidão, pois as pessoas não são perfeitas. Isso pode parecer óbvio, mas com certeza você já se pegou cobrando a mudança de atitude em alguém e se decepcionando por não tê-la conseguido, atribuindo ao outro toda a culpa.
Tentar fazer o bem sempre, agir da melhor maneira possível em todas as situações, nos colocam em um grau arriscado de criação de expectativas, pois ao acreditar que os outros fariam por nós o mesmo que faríamos por eles, cedo ou tarde, acabaremos inevitavelmente nos decepcionando.
E o motivo de tanta decepção é simples: as pessoas não são perfeitas. E mesmo aquelas que mais nos amam, um dia irão errar e nos decepcionar. O que podemos fazer é garantir a superação desta decepção cristalizando valores reais, de respeito, lealdade, amor, que farão a tristeza se esvair com o tempo, deixando apenas mais uma cicatriz no coração, sem consequências duradouras.
Eu que já vivi tantos “breves para sempre”, posso afirmar com propriedade que pior do que ser decepcionado por alguém é se decepcionar. Essa decepção sim é doída, difícil de passar, então não espere demais dos outros. Gaste sua energia priorizando ações que auxiliem na realização de seus sonhos, não os deposite nas mãos de outra pessoa, por melhor que ela seja, pois ela não é você, não sente como você, não sabe o que você espera e no que acredita.
Aproveite o dia dos namorados para conhecer melhor o coração da pessoa que está ao seu lado e se estiver sozinho, aproveite esta data para conhecer seu próprio coração. Avaliar todas as dores, os medos e as ideias absurdas que os sentimentos nobres nos provocam é um ótimo jeito de se preparar para um novo amor.
Tudo bem que os corações são fofinhos e atrativos, mas mais do que isso são parte do elo fundamental de uma relação duradoura, não deveriam ficar assim tão expostos em vitrines. Ali deveriam ter sorrisinhos, poemas, cartinhas de amor, rosas vermelhas, bochechas rosadas, olhos nos olhos, timidez e tudo mais que envolve a arte da conquista. O coração vem depois, bem depois, com o tempo, com a confiança e o respeito.
Geralmente chega de mãos dadas com a vontade crescente de ficar junto e com a saudade no meio do dia. Não acho que seja necessário ter ânsia de se chegar ao coração, quanto mais lento o acesso, mais duradoura a permanência.
Tente valorizar o que é estável, perene, isso é amor. Paixões se esvaem com o vento, com a beleza que o tempo leva, com as criticas e imperfeições que os dedos apontam. O amor não. Esse se fortalece nas tempestades de vento, nas rugas que o tempo aplica ao trazer sabedoria, nas reclamações diárias e na difícil arte de aceitar a diversidade e com ela conviver.

Então, fica a dica para o dia dos namorados, prefira os olhos nos olhos ao porta-retrato de coração,prefira o abraço apertado ao coração de pelúcia, prefira o beijo de olhos fechados ao chocolate em forma de coração. Em suma, diria: Apaixone-se menos e ame mais. Ame muito mais.

sábado, 8 de junho de 2013

Amor maior...


Hoje peço licença para dedicar este espaço a uma pessoa que dedica grande espaço de sua vida ao meu cuidado. Ela não é famosa, nem atleta olímpica, nem artista de televisão, mas para mim é o melhor exemplo a ser seguido. É dela meu maior abraço, meu sim, meu afago e meu amor maior.
Foi com ela que aprendi que as super mulheres não existem apenas nos desenhos animados, mas que é preciso superar as dificuldades de cabeça erguida para chegar perto de ser uma heroína. É nela que penso todas as vezes que um novo obstáculo se apresenta.
Foi ela quem me ensinou que o importante é ser bonito por dentro. A beleza exterior o tempo leva e os cosméticos camuflam. É nela que me inspiro quando começo a ver defeito onde não tem, por pura bobagem, ou quando penso em iniciar uma dieta maluca.
Foi ela quem me mostrou que não devemos abraçar o mundo todo, pois podemos não ter força para carregá-lo, mas que devemos ofertar nosso abraço a todas as pessoas do mundo que precisarem de nós. É dela o primeiro abraço quando volto de viagem e o último quando retorno para casa.
Foi ela quem me ensinou a ler e a contar, debruçada nos livros e nos feijões na mesa da cozinha enquanto fazia o almoço. Era ali que ela me fazia o ditado e perguntava como tinham sido meus dias na escola.
Foi ela quem despertou meu gosto pelas letras, ao me levar na biblioteca do antigo emprego, onde me deixava à vontade, encantada com dezenas de livros que me apresentaram um mundo novo. É para ela que faço um resumo de cada texto e de cada livro novo que termino de ler.
Foi ela quem me ensinou que legumes eram bons, apesar de não ter gosto de chocolate e foi dela que lembrei quando morei meu primeiro ano fora e comia até jiló na falta de dinheiro para o sanduíche na hora do almoço.
Foi ela quem me deu a primeira bronca e me mostrou que ter sempre razão, nem sempre significa vencer uma discussão. É nela que penso quando me deparo com conceitos e opiniões totalmente contrárias aos meus valores, e nessa hora conto até dez, respiro e me calo.
Foi ela quem me mostrou que as pessoas tinham mais valor que as coisas, mas que nem todo mundo entendia essa matemática. Foi dela que lembrei quando tive meu tapete puxado pela primeira vez, quando a ganância de algumas pessoas falou mais alto do que a amizade.
Foi ela quem me ensinou a voar, mesmo morrendo de medo de altura. Foi para ela o primeiro pensamento na primeira noite fora de casa, enquanto me lembrava do quanto tinha sido difícil para ela me deixar sair do seu aconchego para buscar novos rumos.
Foi ela quem me ensinou a rezar e me mostrou que a fé é o maior bem que alguém pode carregar. É dela a primeira oração que faço todos os dias.
Foi ela quem me ensinou que amor e respeito precisam andar de mãos dadas e que quando um falta, o outro, por mais que tente, não consegue suprimir essa ausência. É com ela que compartilho meus desamores enquanto ganho cafuné e um abraço gostoso.
Foi ela quem me ensinou que o amor-próprio deve ser cultivado diariamente e é dela que ganho colo para colar meus cacos, depois de um coração partido. É para ela o primeiro telefonema anunciando o fim ou o início de um relacionamento.
Foi ela quem me ensinou que o trabalho é o único meio aceitável de se conquistar bens materiais e reconhecimento profissional. É dela que me lembro todas as vezes que devolvo um troco errado, ou recebo um elogio.
Foi ela que me mostrou que família é quem a gente pode contar, sejam eles de sangue ou não, o importante é tê-los no coração. E que não importa quantos amigos construímos ao longo da vida, mas sim há quanto tempo você tem um amigo. É dela que me lembro quando penso no quanto é bom ter amigos verdadeiros e um lugar para onde retornar.
Foi ela quem me ensinou a amar minhas origens e a ter orgulho da minha terra, da minha gente, da minha história. É dela que me lembro quando olho para o céu daqui e não me esqueço que a mesma lua está sendo vista por lá.
Poderia passar dias aqui escrevendo cada detalhe, cada lição, cada significado que ela tem na minha vida e a cada dia teria um novo parágrafo para acrescentar. Termino aqui, com o coração apertado de saudade da pessoa que é a dona insubstituível do meu amor maior.
Mãe... É todo seu o meu amor maior.
Feliz dia das mães a todas as mamães desse mundo!
Foto de: Taline Libanio.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pior que o não...


“Quase sempre a maior ou menor felicidade depende do grau de decisão de ser feliz” (Abraham Lincoln)

A vida nos prega algumas peças que nos faz pensar no porquê de certos acontecimentos e ações. Por vezes fazemos coisas que nunca deveriam ter saído do mundo das ideias e tão logo elas se concretizam viram um mar de arrependimento e conflitos.
Tenho me questionado nos últimos dias sobre o que tenho feito e o que deveria ter sido feito. O problema maior está no fato de muitas coisas acontecerem sem o meu consentimento. Geralmente é assim, quando menos se espera, sem nem mesmo aceitar lá está ela, outra situação posta. Algumas admito ter provocado, mas grande parte delas aparecem sem avisar, causando um grande transtorno.
Quando situações desse tipo acontecem geralmente são permeadas por dúvidas e tomadas de decisão. Acontece que em grande parte das vezes uma decisão vai interferir no rumo da vida de um monte de pessoas. É a velha história do alfinete caído aqui que pode provocar um furacão no Japão.
Nessa hora a dúvida impera e o medo de fazer a escolha errada, de machucar pessoas, de se arrepender parece tomar conta de todos os nossos sentidos, e digo todos, pois o sono demora a chegar, o apetite desaparece e até a respiração se altera.
Nunca tive tanta certeza de estar em dúvida como agora. Nunca esperei tanto uma atitude de outra pessoa para esclarecer minha dúvida. Acontece que sei que enquanto acreditar nisso, vou continuar me enganando.
Decisões preveem inevitavelmente renúncias e escolhas.  E a consequência de cada uma delas será de nossa inteira responsabilidade. Esperar do outro nessas situações é tapar o sol com a peneira, esconder a insegurança em um véu de tule.
Algumas pessoas acreditam que uma decisão pode ser revertida a qualquer tempo e isso faz com que se precipitem, se machuquem e se arrependam. Contudo, creio que uma decisão tomada jamais será reversível. Você pode até vivenciar novamente a mesma situação, com as mesmas personagens, mas o impacto da escolha não será o mesmo dessa vez, pois todos estão cheios de histórias, lembranças e cicatrizes. E é isso, na minha opinião, que faz com que todas as decisões sejam tão difíceis e importantes.
Arrependo-me de poucas coisas nessa vida. Creio que apenas uma delas teria mudado de forma radical minha vida. As demais poderiam ter causado uma emoção aqui, uma lembrança ali, uma lágrima acolá, mas nada que me fizesse lamuriar até a eternidade.
A escassez de arrependimentos deve-se ao fato de fazer quase sempre o que tenho vontade e não pense que isso é sinal de coragem e segurança, longe disso. Acontece que algumas coisas mal resolvidas me amarram, então prefiro deixar tudo às claras, para conseguir seguir.
Geralmente prefiro arriscar o sim a ficar na espera do: quem sabe um dia. Na minha modesta opinião, pior do que o não é o talvez. Pior do que o não viver é pensar todos os dias: e se eu tivesse vivido. Pior do que o deixar para depois, é a incerteza do amanhã.
Algumas pessoas contam que o tempo será capaz de auxiliá-las a tomar algumas decisões, mas cá entre nós, acredito que o tempo é um ajudante perigoso. Ao mesmo tempo em que pode contribuir para amadurecer um sentimento e uma certeza, costumeiramente tem a mania de deixar aos poucos tudo apagado, sem cor, até que caia no esquecimento e se torne num belo dia, mais um: “e se”, na nossa curta existência.
Ando cansada de tomar decisões, mas o que é a vida se não um emaranhado delas. Desde a roupa que vou vestir quando acordo, até a hora em que programo o despertador antes de dormir, tudo se resume a um mar de decisões.
Quando a decisão depende exclusivamente de nós, apesar de nada fácil, se torna mais simples, o problema é quando está diretamente ligada a atitude de outra pessoa. Nesses casos parece que só mesmo uma boa mágica para solucionar o problema e quando falo disso, penso que algumas coisas deveriam desaparecer ou nunca ter acontecido, assim evitariam essa inquietação que tira até o meu sono e confunde o ar enquanto respiro...