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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Lança a dança... Insegurança


“Porque amor é justamente isso, é ficar inseguro. É ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle” (Fabrício Carpinejar)

Insegurança é veneno produzido no coração. Corre pelas veias, invade o cérebro e domina os pensamentos. Deixa a boca seca e mata aos poucos, gole a gole.
Seca sentimentos como o sol castiga as plantas no sertão. Camufla sonhos e exalta medos como um outdoor com figuras em segundo plano.
Insegurança dói. Tanto quanto a perda de um ente querido, ou uma batida do dedinho no pé da mesa.
Insegurança é lança atirada pelo inseguro contra o próprio peito. É dança em descompasso em piso frio.
Insegurança transparece. Cresce feito nuvem em dias nublados e esconde o que está à vista, como a lua em dias de nevoeiro.
Insegurança cega os olhos, tapa os ouvidos e constrói perguntas que nunca deveriam ser feitas. Insegurança é a maldição dos desapaixonados ou quiçá dos enganados.
Sua maior propagadora é a moça de coração partido ou o rapaz traído na beira do altar. Sentimentinho ridículo de tão pobre, mas capaz de impedir o surgimento de lindas e nobres histórias de amor.
Filha do ódio e da vingança, irmã do ciúme, a tal insegurança quando encontra um coração partido se instala como se fosse suíte em hotel de luxo e ali permanece, em estadia prolongada, sem data para partir. Por vezes adormece por meses e quase passa despercebida, mas basta a menor desconfiança para que ela acorde e grite, aos berros, que dali ninguém a tira.
Ninguém gosta de sentir-se inseguro. Ninguém gosta de desconfiar. Mas quando alguém carrega a insegurança dentro do peito, é difícil aquela fera aquietar. Acredita que a mantém sob controle, quem não sabe o que ela representa, ou seus efeitos nunca sentiu. Esse acha fácil arrancá-la dali e tece crítica feroz a quem com ela emergiu. E entre uma critica e outra, entre um grito e outro, a insegurança desperta, e sente-se vitoriosa ao anunciar: mais um relacionamento que não vai vingar.
A solução para mantê-la sob controle é manter-se solitário. Sozinho, longe de qualquer sentimento nobre que possa atacá-la e querer seu espaço ocupar. Mas isso é justo?
No meu singelo entendimento não. Mas se o homem é o criador de sentimento tão mesquinho, será possível outro homem nele por fim?
Enquanto o guerreiro não a encara de frente, corações apresentam-se secos, sem vida, incapazes de ser terreno fértil para o cultivo de sentimentos nobres. Palavras ecoam na mente do inseguro e o cansaço da crítica também alimenta a dúvida, enrijece a alma, endurece o coração. A insegurança fechou o portão e disse ao amor: aqui você não entra mais não.
Que grande mal é esse, que confunde baixa estima com medo, que ultrapassa a dor física e faz a alma chorar por não conseguir, por mais que deseje todas as noites, confiar?
Ah insegurança... Lança a dança e agora avança. Vá embora sua bruxa malvada e dê a menina um pouco de esperança. Promessas, terapia e simpatia já não a fazem partir, rezas e mandingas a fazem sorrir, seu único medo é a confiança. Mas cá entre nós, como pode confiar o inseguro que desconfia até de quem faz suas tranças?
Mal sem fim, dor eterna? Dizem que não há mal que para sempre dure, nem tristeza que nunca acabe. A insegurança sendo um mal que causa tanta tristeza não há de ser eterna, pois. Será?
Remédio para curá-la? Ainda não há.  Desconheço algum de efeito imediato, mas dizem por ai que amor, em doses diárias, paciência e gestos de cumplicidade alimentam a confiança e enfraquecem a insegurança. 
E se assim for, que o pedido diário no lugar do café, abra espaço para uma dose de amor, bem caprichada garçom, por favor.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Vai de busão! Vai na contramão!


“Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!”
(Grabiel O Pensador – Até quando?)

Praticamente todos os dias escuto a mesma pergunta:
- Por que você não compra um carro?
A resposta para esse questionamento vai do rápido: porque não quero, até o longo discurso que engloba minha repulsa por dirigir e o entendimento de que até o momento não preciso de um carro para viver.
Sempre andei com meus dois pés bem fincados no chão quando morava na pequena cidade, raramente precisava do carro para alguma coisa e nessas horas uma carona sempre era bem vinda. Nunca gostei muito de dirigir, na verdade esse desgosto beirou a fobia, mas hoje já foi superado.
Tenho carteira de habilitação, dirijo quando é preciso, mas não gosto. Para dizer bem a verdade, nem de andar de carro eu gosto. Tenho aflição, sempre acho que está rápido demais, ou que a vaga não tem tamanho suficiente e isso me dá aflição.
Quando mudei para a grande cidade percebi que andar a pé não seria uma solução, já que as distâncias passavam e muito dos seis ou dez quarteirões de antigamente. Então escolhi o transporte coletivo, também conhecido como ônibus ou “busão”, como meu meio de transporte diário.
Para que preciso de um carro se consigo chegar de ônibus ao meu destino, acomodada em um Mercedes Benz, com 42 lugares, bancos de couro e motorista particular? Sempre consegui chegar a todos os lugares de ônibus e quando o retorno por esse meio não era possível, um táxi resolveu bem o meu problema.
Mas tem muita gente que acha um absurdo não ter um carro e me privar desse conforto. Sinceramente em dias de chuva eu penso seriamente que essas pessoas têm razão, mas basta ver o sol se abrindo e aquela brisa fresca batendo no meu rosto enquanto caminho para casa que já mudo de ideia novamente.
É claro que é muito mais confortável andar de carro, mas não vejo problema nenhum em viajar de ônibus quando consigo um assento livre. E é aqui que está o “X” da questão.
Andar de ônibus não é o problema, complicado é você pagar o mesmo preço de tarifa de quem viaja sentado e ter que viajar em pé. Se equilibrando entre um monte de gente, feito sardinha em lata, correndo o risco de cair, se machucar, ser assediado ou assaltado.
Essa semana me enchi de orgulho ao ver as manifestações pelo Brasil afora. Claro que não é apenas pelos vinte centavos que acrescentaram na tarifa da passagem de ônibus. Claro que não é só pelo passe livre, mas esse já é um motivo forte para se iniciar uma reflexão que beira a revolução.
A esmagadora maioria dos brasileiros utiliza o transporte público, muitos deles não por escolha, mas por essa ser sua única opção. O sucateamento do transporte público, a diminuição de linhas, a ausência de dignidade de um lado e do outro o aumento da tarifa, a corrupção ativa e a política pobre para pobres tem sido retrato há décadas do que o povo brasileiro sofre diariamente.
Se o transporte é público por que é mantido por empresa privada? Por que é pago? Por que não é confortável e de livre acesso? Particularmente não reclamo do aumento da tarifa, o problema é que tudo aumenta, o ônibus, o aluguel, o arroz e o feijão, o combustível, o pão de cada dia, mas o salário do trabalhador continua lá, congelado.
Esse ano mesmo, a maioria dos trabalhadores não teve nem 1% de aumento real no seu salário, mas tudo teve elevação de tarifa, inclusive o ônibus. Tudo bem foram só vinte centavos. Vinte centavos, que para você que anda de carro pode parecer pouco, mas para quem utiliza quatro conduções no dia é quase o almoço no Bom prato.
Está na hora de deixar a crítica vazia de lado e levantar os braços, abrir bem a boca e exigir reforma tributária, punição aos corruptos, liberdade de manifestação. Chega de lavar o carro zero todo o final de semana e se esquecer que daqui seis meses ele já desvalorizou em 30%. Chega de achar que o “busão” lotado está de bom tamanho para o trabalhador pobre e xingar horas em um congestionamento.
Se um dia sentir a necessidade de ter um carro, vou adquiri-lo com consciência, sem me esquecer de todos os anos em que me utilizei do transporte público. Hoje eu falo não e não me calo. Chega de alienação.
Eu ando de ônibus e não me envergonho disso. O que me envergonha é a ausência de um transporte público digno, com qualidade. E se a minha indignação for considerada contrária as prerrogativas dos governantes, então já aproveito para informar que eu vou de “busão” e vou na contramão!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Onde você guarda o seu?

A descrença e a negligência religiosas são um grande mal, porém o preconceito e as mentiras são ainda piores”. (Plutarco)

Essa semana fui surpreendida com a reação de um colega que me fez pensar no quanto ainda existe conservadorismo e preconceito quando o assunto é religião.
Conheço essa pessoa há pouco tempo e não acho que preciso colocar na minha ficha de apresentação meus preceitos religiosos, contudo, nunca quis escondê-los, pois os escolhi e agradeço todos os dias pelo conhecimento adquirido e por poder multiplicá-los. Mas nunca imaginei que poderia causar tanto espanto a alguém ao assumir minha opção religiosa.
Estávamos conversando quando ele perguntou o que faria à noite e disse que iria ao Centro:
- Mas você já mora no Centro!
- No Centro Espírita.
Silêncio.
- Alô?
- Oi...
- Te assustei?
- Não... Eu só não esperava.
- Algum problema?
- Não, eu continuo gostando de você do mesmo jeito, viu?
Vi. Na mesma hora pensei: Meu Deus! Será que ouvi direito?
Aquela frase me soava mais ou menos assim: Você tem esse defeito grave, mas eu vou continuar gostando de você, viu? Ou ainda, você faz essa coisa horrível, mas mesmo depois de saber disso, eu vou continuar gostando de você, viu?
Será que eu tinha que agradecer? Esse constrangimento me fez lembrar a primeira situação que vivenciei registrando intolerância à minha escolha religiosa.
Quando tinha meus dezesseis anos, estudava em uma escola técnica em uma cidade vizinha e conheci lá uma garota muito legal, tinha um coração enorme, era super simpática e companheira, então pensei: Caramba! Essa garota vai ser minha amiga para o resto da vida!
Construímos uma relação forte de amizade que foi rompida quando em uma aula de sociologia, a professora abordou o tema religião e cada aluno expressou sua crença. Ela que era testemunha de Jeová, quando soube que eu era espírita kardecista nem se despediu naquela tarde. E nos dias que se seguiram, foi ficando mais distante.
Lembro que sofri com a perda daquela amizade, mas tentei compreender as razões dela e segui, construindo minha vida nos princípios do amor e da caridade. Jamais me esqueci daquela situação e hoje isso voltou com força, quando escutei aquela frase que ficou ecoando na minha cabeça por horas.
Fico pensando que às vezes chega a me dar medo de afirmar minha doutrina, pois parece aos olhos de muitos que o que faço é errado. Mas porque temos que ser vistos assim? Não tenho nada contra nenhuma religião, já conheci quase todas até me identificar com a doutrina espírita, mas de verdade, é difícil entender o preconceito que se forma sobre o espiritismo.
Agora mesmo, posso apostar que alguns leitores que acompanham essa coluna há anos, poderão deixar de acompanhá-la, se é que já não o fizeram lá no quinto parágrafo. Acreditar em uma ou outra coisa, em um nome para Deus ou em outro muda minha essência? Muda meus valores?
Acredito que o preconceito vem do desconhecimento. Já me perguntaram se fazemos exorcismo ou rituais malignos por lá. Poxa, se você não conhece não julgue. Participe de um atendimento fraterno, de uma palestra, ou converse com quem é praticante e, se quiser permanecer longe dessa doutrina, então, sobretudo a respeite.
Muito se diz sobre evangélicos hoje em dia na mídia e tenho muitos amigos que seguem essa religião e eu os respeito. Assim como também tenho amigos católicos e ateus. E nunca, jamais falaria para um deles que apesar dele ser evangélico (católico, ateu ou qualquer coisa que desejar) continuarei gostando dele, porque isso me soa estranho, para não dizer incompreensível.
Pessoas fazem escolhas o tempo todo, com tudo! A maravilha da humanidade está na diversidade, a evolução dos homens está no fato de aceitar as escolhas feita por outros homens e respeitar suas diferenças. Mas parece que é mais fácil transformar a diferença em avença do que aceitá-la.
Ouvir isso hoje, em pleno século XXI, onde ainda milhares de pessoas morrem no mundo por fanatismo religioso, ouvir isso em uma cidade com quase seiscentos mil habitantes, onde existe uma comunidade espírita vasta e fortalecida, chega a me assustar.
O conservadorismo ainda existe e o preconceito o acompanha de braços dados.
Com esse episódio aprendi que as respostas chegam mais rápido do que as pedimos e que mais difícil do que esconder uma verdade é disfarçar um preconceito. Então, não o esconda, não o omita, não o guarde.
Quando se expõe o preconceito se abre a possibilidade de dialogar sobre isso, abre-se a oportunidade de romper estigmas e conquistar uma nova visão sobre determinado assunto. Ninguém é capaz de mudar uma pessoa, mas é possível mudar o jeito de olhar para ela, basta conhecê-la, e para isso é preciso despir-se de toda e qualquer forma de preconceito e pré-conceitos.
E então? Onde você guarda o seu? Vamos conversar mais sobre isso?