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domingo, 26 de agosto de 2012

Duelo de titãs


“Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se”. (Lya Luft)

O coração grita. A angústia que justifica a necessidade de se tomar uma decisão a consome. Sempre foi rodeada por elas: escolhas. Sempre foi incomodada por elas: renúncias. Cada escolha uma renúncia, nunca se cansou de dizer, primeiro a ela mesma, depois a todos os outros que quisessem ouvir.
O destino lhe pregou nova peça. Um drama, regado com um pouco de paixão, muito romantismo e a seriedade de poemas que já não falam mais só de amor. Foram dias e mais dias pedindo a Deus um amor, um sentimento nobre que lhe tocasse a alma e lhe fizesse sentir viva novamente.
Os olhos claros e o sorriso aberto lhe confiaram uma promessa, a realização de um sonho quem sabe. A segurança, a estabilidade, a necessidade de ter alguém por perto, alguém que já tenha feito suas escolhas e já não tenha mais medo das renúncias. Aquela segurança lhe trouxe de volta para o chão.
Deixou envolver-se no romance musicado, nas palavras que indicavam um futuro feliz, seguro, mas que já teve promessas quebradas, expectativas desmanchadas e hoje ela se questiona: será mesmo real ou fruto da ilusão?
E quando a insegurança se aproximava surgiu a promessa de amor sem fim, nos olhos escuros, no sorriso tímido. As falas das comédias românticas, os planos, os desejos tão afins com os dela. Tão repletos de sinceridade, de certeza... Ah! O medo!
De um lado o amor hollywoodiano, aquele amor que sempre a incomodou. Aquele amor que nunca a convenceu, pois estava longe demais das suas mãos, era bobagem, coisa de filme, duas pessoas com os mesmos ideais e tantas afinidades só mesmo na vida ensaiada.
Do outro lado a serenidade, a esperança de companheirismo, de relacionamento duradouro, a necessidade de fincar raízes e enfim sossegar.
O avesso do avesso. A água e o vinho. A cruz e a espada. O coração grita. Briga desenfreada de sensações, de vontades, de lembranças.
Nessa história infelizmente não há vencedores. Dificilmente a decisão correta será tomada, pois para cada personagem o correto indica um caminho diferente. Bom seria poder juntar caminhos e acabar de vez com essa angústia que a consome.
Aguarda os sinais. Trovões, ventos, tempestade, o sol que brilha lá fora. Aguarda a ordem do mandante que sempre lhe coloca em confusão, sábio e tolo coração. Aguarda que o destino lhe mostre em suas linhas tortuosas qual caminho escolher.
Pode ser que o não de hoje se torne o sim de amanhã e que o sim amanhã já tenha se transformado em não, isso tudo porque a vida não para. Cada escolha, uma renúncia.
Acho que nunca a vi assim, com a alma daquela cor. Um misto de alegria e desespero. De medo e satisfação. Os olhos já não brilham com tanta intensidade quando pensa na decisão. O coração lhe aperta o peito e lhe pede aos gritos para tirar de uma vez por todas um titã desse espaço.
Mas coitadinha, mal tem forças para olhá-los. Alimenta a certeza de um na insegurança do outro. Acompanha a dificuldade do outro na decisão do um. E assim os dias passam e ela vai guardando esse segredo no fundo do peito. Um segredo que já virou duelo de titãs, sem plateia, sem efeitos especiais, a espera da única coisa que lhe falta para colocar de uma vez por todas um titã para fora desse enredo: Certeza... Ou seria coragem?

domingo, 19 de agosto de 2012

A virada!



Lembrei-me esta semana de uma viagem incrível que fiz para o Uruguai no final do ano passado. Conhecer outro país nunca esteve nos meus planos, ainda mais na época de comemorações de final de ano, mas eis que surgiu a proposta e a viagem aconteceu, fluiu da melhor maneira possível e nem mesmo a pouca fluência no espanhol ou o medo de avião foram capazes de tirar seu brilho.
Tenho inúmeras histórias para contar dos dias em que fiquei em terras uruguaias, antes de passar para o território argentino, onde conclui a viagem, mas hoje me prendo a um acontecimento que foi inesperado e que tem sido relembrado com constância nos últimos dias, devido a uma vontade incontrolável de dar uma virada na minha vida.
Na metade do ano de 2011 havia passado por uma consulta com um astrólogo que disse que 2012 seria o meu ano. Acreditei tão forte nisso que jurei começar o ano com o pé direito, desprovida de pré-conceitos e do passado, aberta a coisas novas que tornassem esse ano, realmente memorável... E que melhor jeito de começar senão estando em um país diferente, rodeada de novas pessoas e de costumes locais um tanto quanto peculiares?
E foi assim, despida dos meus costumes, crente nos astros que garantiram ser 2012 o MEU ano e carregada de expectativas, que me dirigi no dia 31/12/2011 a um Pub Alemão, no centro de Montevidéu/Uruguai, para os festejos de réveillon.
Chegamos ao Pub Bremen por volta das dez e trinta da noite, lugar pequeno, mas aconchegante. Repleto de turistas do mundo todo: alemães, americanos, argentinos, uruguaios, brasileiros, australianos, irlandeses, mexicanos, gente de todo canto, cada um com seu costume e motivo para comemorar a virada do ano.
Tão logo chegamos fomos presenteados com uma garrafa de champanhe e nos serviram uma bebida doce, colocada em uma taça de licor de plástico.  Pouco antes do relógio anunciar meia-noite o lugar se encheu de luz, eram tantos fogos de artifício, apontados em todas as direções, inclusive para nós, que me senti em um cenário de bangue-bangue. Um costume que me deixou assustada, mas me causou encantamento. Foram abraços e desejos, em muitas línguas, de um ano novo próspero e cheio de realizações!
A festa logo começou e fomos convidados a participar de jogos organizados pelo dono do Pub para integrar os convidados. A princípio achei a idéia interessante, mas não me atrevi a participar de nada, até que surgiu o convite para participar de uma queda de braços. A brincadeira tornou-se um desafio e me inscrevi para a competição. Qual não foi minha surpresa quando na primeira hora do dia 01/01/2012 estava em uma mesa, em um Pub alemão, no Uruguai prestes a tirar queda de braço com uma turista, pasmem, argentina.
A “luta” acontecia dentro do Pub e era transmitida em um telão, ao mesmo tempo em que era narrada pelo dono do bar. Lembro-me que ao anunciar a origem das competidoras, o bar se encheu, todos queriam presenciar a rivalidade histórica de Brasil x Argentina, mesmo que em uma queda de braços feminina. Brasileiros que eu nunca tinha visto gritavam meu nome, americanos e uruguaios apoiavam e argentinos vaiavam. Foi hilário.
A brincadeira durou pouco mais de três minutos com uma vitória memorável da brasileira aqui, seguida por muitos cumprimentos, abraços e risadas. Garanto que posso passar por viradas de anos incríveis até o final da minha vida, mas dessa jamais me esquecerei.
Acontece que pouco depois da confraternização, nos dirigimos para uma danceteria em um bairro próximo ao centro de Montevidéu, e no meio do caminho, na segunda hora e meia do dia 01/01/2012 eu cai.
Levei um tombo histórico, digno de vídeo cacetada e enquanto estava ali, estatelada no chão, tentando me reerguer, sentindo o sangue escorrer dos joelhos e das mãos, me lembrei da luta e logo em seguida do astrólogo e pensei: Mas que belo jeito de começar o MEU ano!
Meus amigos me levantaram do chão e eu ri. Gargalhei, alto, sentada na praça principal de Montevidéu, com os joelhos ralados, na madrugada do primeiro dia do ano, após vencer uma argentina em uma queda de braço em um Pub Alemão. Era inacreditável!
Não foi aquele tombo que me abateu, muito menos os hematomas que se apresentaram nos dias seguintes ou os ralados por todo o corpo, que mudaram a cor da viagem, mas nesta semana, depois de um início de ano tumultuado, cheio de tropeços e puxões de tapete, sem nenhuma surpresa boa, sem nada que me fizesse abrir a boca e dizer: esse é o MEU ano,  lembrei-me forte daquele dia. Lembrei-me de cada sensação vivida, e percebi que apesar de ter me ferido, não trouxe nada de ruim daquela virada, nada que pudesse ter escurecido meu espírito ou acinzentado meus dias.
Estamos em agosto, mais perto do final do ano do que de seu início e depois da glória e da queda nas primeiras horas desse ano, ando me perguntando: qual será o caminho da conquista? Quando irão começar a surgir as respostas? Quantas quedas mais serão necessárias?
E foi nesta semana, depois de uma crise existencial intensa, que me fez repensar tudo em minha vida (onde vivo, com quem me relaciono, no que trabalho, com que gasto meu tempo e dinheiro), que tive um sonho daqueles que são maiores que intuições e acordei com esta mensagem: “calma, coroas de louro serão colhidas no final”.
E foi então que não encontrei respostas, mas comecei a mudar as perguntas e boas coisas começaram a acontecer... Calma, surpresas boas tem invadido meus dias. Calma, certezas estão prestes a me encontrar. Calma, quedas precedidas por vitórias são sinônimos de superação. Calma, machucados transformam-se em cicatrizes para nos exercitar a resiliência. Calma, a hora da virada chegou e é agora!
Virada, praticamente do avesso, foi assim que iniciei meu ano e agora, perto do seu final, me apego nas lembranças das primeiras horas  e acredito na intuição enquanto busco o recomeço, não no futuro, mas no hoje, no agora, no MEU ano, nos meus dias de vitória, de quedas, de transformação, que serão em breve cobertos pelas coras de louro e trarão tantas alegrias quanto as vividas naquela noite quente de réveillon...


domingo, 5 de agosto de 2012

O Rancho


“Ai que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão (...)”.
(Catulo da Paixão Cearense/João Pernambuco)

Existe um lugar nesse planeta onde consigo me sentir em paz o tempo todo, basta colocar os olhos na entrada daquele recanto para meu coração bater mais devagar, meus olhos ampliarem seu poder de avistar o horizonte e minha mente esvaziar-se por completo.
Não me canso de olhar para a grama verde que cobre o campo de futebol e pisar em cada pedacinho dela lentamente, deixando os ramos de mato mais alto fazerem cócegas nos meus dedos.
Adoro sentar na beira do rio enquanto observo meu pai pescar e ficar olhando para a mata ao redor, por vezes admiro a correnteza que vai e vem, renovando seu ciclo a cada instante, trazendo lembranças e levando tristezas.
Marchar entre as árvores que parecem compor uma verdadeira fila de soldados a nos receber é como adentrar o país das maravilhas. Escuto as cigarras cantarem enquanto trocam de casca e procuro ninhos novos de pássaros que ali rodeiam, tentando buscar renovação, na natureza e dentro de mim.
Andar pela beira do rio e escutar um casal de tucanos brincando, enquanto observo seu bico laranja surgir no meio das árvores verdinhas, em um show de cor e alegria, me traz uma sensação tão boa... É tanto conforto que por vezes não cabe em mim.
Andejar pela ponte de madeira que liga as duas partes daquele lugar e relembrar o medo da infância e o perigo que se corria ao atravessá-la correndo ou ao escalá-la com cuidado para jogar mais um barco de palha na correnteza, me traz de volta a coragem que hoje me falta.
Olhar para o sol se pondo e sentir o cheiro da relva, molhada pelo orvalho gelado e límpido, é como tomar banho de dentro para fora. Aquele cheiro de capim molhado, aquele friozinho até mesmo em dias de altas temperaturas, tudo para exaltar cada sensação.
Admirar o céu escuro, dominado por estrelas, milhares delas, tantas quantas se desejar, o céu mais estrelado que eu já vi, é como conversar com Deus sem nem precisar orar. Em dias de lua cheia então... Que espetáculo, que vontade de fincar os pés na relva e me deixar hipnotizar pelo clarão da lua, me enquadrando naquela paisagem que tanto me fascina.
Caminhar pelo campo na noite escura, longe da iluminação é correr o risco de maravilhar-me com os vaga-lumes que não cansam de acenar boa noite. Um, dois, dez, muitos...Fazendo da escuridão quase um enfeite de natal, com seu pisca-pisca constante.
Lugar de encontros, lugar de despedidas. Lugar de festas de aniversário, casamento e futebol. Lugar de família reunida e de gargalhadas perto da cozinha. Lugar de música, de viola e de piadas. Lugar de ser feliz e de encontrar-se com a felicidade até mesmo nos dias mais nebulosos.
Tantas lembranças...Tantas histórias. Tanto cheiro, sabor, abraço e som que fazem meu coração vibrar.
Daria tudo para estar nesse lugar hoje, para me refugiar da minha angustia, da minha frustação e da incerteza do amanhã. Daria tudo para me sentir segura, acolhida, rodeada por sentimentos reais e pelas pessoas que realmente importam. Daria tudo por mais uma tarde de sol e uma longa noite estrelada naquele rancho, que me viu crescer e hoje cresce dentro de mim tão intenso quanto a saudade do que vivi e do que ainda está por vir...